A Linguagem como Alternativa Contra a Violência

A linguagem é um dos aspectos que nos fazem ser diferentes dos outros animais, mas você pode dizer: as abelhas usam uma “linguagem” para indicar a presença de mel ou algo parecido, mas elas não fazem múltiplos uso da linguagem, dentre os quais, o uso social.

Durante muito tempo, nosso ancestrais distantes não possuíam a capacidade da linguagem e provavelmente se comunicavam de maneira rudimentar e por meio de gestos, mas em determinado momento de nossa evolução, um gene adormecido (FoxP2: gene presente em todos os mamíferos) foi ativado e desencadeou uma série de mudanças fisiológicas e cognitivas no corpo desse hommo primitivo. A partir daí que nossos parentes começaram a se reunir em grupos cada vez maiores e pararem de se deslocar como nômades e assim chegamos aqui, em uma sociedade civilizada e “organizada”.

A linguagem foi fundamental para sermos que somos hoje e sem ela talvez ainda viveríamos como os primeiros homínideos que habitaram aqui, mas só a fato de termos a possibilidade de comunicação e de uso social de mais diferentes formas de linguagem e modalidades não nos tornam seres perfeitos, pois há muitos conflitos que afligem a sociedade e muitos deles poderiam ser mediados ou mesmos extintos por intermédio eficaz da linguagem.

No Rio de Janeiro, a cada 5 homicidios, 1 tem motivação fútil, ou seja, são vidas perdidas por conta de batidas de trânsito, ofensas pessoais, fofocas, desentendimentos entre vizinhos, dentre outros, São vidas que se esvaem pela simples falta de diálogo, uma conversa amigável poderia resolver conflitos e vidas poderiam ser poupadas.

Em relação ao núcleo familiar, o diálogo aberto e claro é cada vez mais raro, pois a correria do dia a dia tem privado pais e filhos de almoçarem e jantarem juntos, de compartilharem momentos bons e ruins, o que acaba gerando uma situação onde filhos conversam pouco com os pais e pais que pouco se interessam pelo que o filho ou filha faz. Aí que mora o perigo, pois as más companhias acabam “ouvindo” esses jovens e e encaminhando os mesmos para o mundo das drogas e de outros prazeres ilícitos que de uma forma ou de outra acabarão impactando a estrutura familiar de modo irreversível.

O uso da linguagem como alternativa para reduzir os conflitos e a violência deve ser uma prática corriqueira na escola, que convive hoje com situações de violência física entre alunos e professores, além do bullying. Realizar assembleias para ouvir alunos e professores, promover debates e atividades envolvendo a comunidade são boas alternativas para se sustentar um bom diálogo aberto. Desse modo o sentimento de pertencimento e de que todos são “ouvidos” ajuda a melhorar as relações interpessoais no ambiente escolar e até fora dele.

Assim como guerras podem ser evitadas a partir do diálogo, a violência também pode ser evitada ou pelo menos amenizada. É preciso também desautomatizar a visão de que ser humano é violento por natureza e que a violência é algo natural e muita vezes banal na sociedade, o que não passa de uma grande ilusão.

O diálogo simples ou uma conversa genérica talvez não determinem o fim de uma guerra, conflito ou uma discussão entre vizinhos, mas pode ser um caminho viável para a paz social, ao contrário das armas que só provocam perdas para ambos os lados.

Referência

ZIZEK, Slavoj. Language, violence and non-violence. In: Internacional Journal of Zizek Studies. Vol 2, nº 3, 2008.